sábado, 24 de novembro de 2007

O PRÍNCIPE - CAPÍTULO XXIV

CAPÍTULO XXIV
POR QUE OS PRÍNCIPES DA ITÁLIA PERDERAM SEUS ESTADOS
(CUR ITALIAE PRINCIPES REGNUM AMISERUNT)


As coisas já referidas, observadas prudentemente, fazem um príncipe
novo parecer antigo e logo o tornam mais seguro e mais firme no Estado
do que se aí fosse um príncipe antigo. Porque um príncipe novo é muito
mais observado nas suas ações do que um hereditário; e, quando estas
são reconhecidas como virtuosas, atraem mais fortemente os homens e os
ligam a si muito mais que a tradição do sangue. Porque os homens são
levados muito mais pelas coisas presentes do que pelas passadas e,
quando nas presentes encontram o bem, ficam satisfeitos e nada mais
procuram. Antes, assumirão toda sua defesa, desde que não falte à
palavra nas outras coisas. Assim, terá a dupla glória de ter dado
início a um principado novo e de tê-lo ornado e fortalecido com boas
leis, boas armas e bons exemplos; por outro lado, aquele que, tendo
nascido príncipe, veio a perder o Estado por sua pouca prudência, terá
duplicada a sua vergonha.


E, se se consideraram aqueles senhores que, na Itália, perderam seus
Estados nos nossos tempos, como o rei de Nápoles, o duque de Milão e
outros, achar-se-á neles, primeiro um defeito comum quanto às armas,
pelas razões que já foram expostas; depois, ver-se-á que alguns deles,
ou tiveram a inimizade do povo, ou, tendo o povo por amigo, não
souberam garantir-se contra os grandes, eis que sem estes defeitos não
se perdem os Estados que tenham tanta força que possam levar a campo
um exército. Felipe da Macedônia, não o pai de Alexandre, mas o que
foi vencido por Tito Quinto, tinha um Estado não muito extenso, em
comparação com a grandeza dos romanos e da Grécia que o assaltaram;
não obstante, por ser homem de espírito militar, que sabia ter o povo
como amigo e garantir-se contra os grandes, sustentou por muitos anos
a guerra contra aqueles; e se, afinal, perdeu o domínio de algumas
cidades, restou-lhe todavia o reino.


Portanto, estes nossos príncipes que tinham permanecido muitos anos em
seus principados para depois perdê-los, não podem acusar a sorte, mas
sim a sua própria ignávia, pois, não tendo nunca, nos tempos
pacíficos, pensado que estes poderiam mudar (o que é defeito comum dos
homens na bonança não se preocupar com a tempestade) quando chegaram
os tempos adversos preocuparam-se em fugir e não em defender-se,
esperando que as populações, cansadas da insolência dos vencedores, os
chamassem de volta. Esse partido é bom quando os outros falham, mas é
muito mau o ter abandonado os outros remédios por esse, pois não irás
cair apenas por acreditar encontrar quem te levante; isso não acontece
ou, se acontecer, não será para tua segurança, dado que aquela defesa
torna-se vil se não depender de ti. As defesas somente são boas,
certas e duradouras quando dependem de ti próprio e da tua virtude.

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