sábado, 24 de novembro de 2007

O PRÍNCIPE - CAPÍTULO XIX

CAPÍTULO XIX
DE COMO SE DEVA EVITAR O SER DESPREZADO E ODIADO
(DE CONTEMPTU ET ODIO FUGIENDO)


Porque falei das mais importantes das qualidades acima mencionadas,
desejo discorrer rapidamente sobre as outras, sob estas generalidades:
que o príncipe pense (como acima se disse em parte) em fugir àquelas
circunstâncias que possam torná-lo odioso e desprezível; sempre que
assim proceder, terá cumprido o que lhe compete e não encontrará
perigo algum nos outros defeitos. Odioso o tornará, acima de tudo,
como já disse, o ser rapace e usurpador dos bens e das mulheres dos
súditos, do que se deve abster; e, desde que não se tirem nem os bens
nem a honra à universalidade dos homens, estes vivem felizes e somente
se terá de combater a ambição de poucos, o que se refreia por muitos
modos e com facilidade. Desprezível o torna ser considerado volúvel,
leviano, efeminado, pusilânime, irresoluto, do que um príncipe deve
guardar-se como de um escolho, empenhando-se para que nas suas ações
se reconheça grandeza, coragem, gravidade e fortaleza; com relação às
ações privadas dos súditos, deve querer que a sua sentença seja
irrevogável; deve manter-se em tal conceito que ninguém possa pensar
em enganá-lo ou traí-lo.


O príncipe que dá de si esta opinião é assaz reputado e, contra quem é
reputado, só com muita dificuldade se conspira; dificilmente é
atacado, desde que se considere excelente e seja reverenciado pelos
seus. Na verdade, um príncipe deve ter dois temores: um de ordem
interna, de parte de seus súditos, o outro de natureza externa, de
parte dos potentados estrangeiros. Destes se defende com boas armas e
bons amigos; e sempre que tenha boas armas terá bons amigos. A
situação interna, desde que ainda não perturbada por uma conspiração,
estará segura sempre que esteja estabilizada a externa; mesmo quando
esta se agite, se o príncipe organizou-se e viveu como eu já disse,
desde que não desanime, resistirá a qualquer impacto, como salientei
ter feito o espartano Nábis.


Mas, a respeito dos súditos, quando os negócios externos não se
agitam, deve-se temer que conspirem secretamente, contra o que o
príncipe se assegura firmemente fugindo de ser odiado ou desprezado e
mantendo o povo com ele satisfeito; isto é de necessidade seja
conseguido, como já acima se falou longamente. Um dos mais poderosos
remédios de que um príncipe pode dispor contra as conspirações é não
ser odiado pela maioria, porque sempre, quem conjura, pensa com a
morte do príncipe satisfazer o povo, mas, quando considera que com
isso irá ofendê-lo, não se anima a tomar semelhante partido, mesmo
porque as dificuldades com que os conspiradores têm de se defrontar
são infinitas. Por experiência vê-se que muitas foram as conspirações
mas poucas tiveram bom fim, pois quem conspira não pode ser sozinho,
nem pode ter por companheiros senão aqueles que acredite estarem
descontentes; mas, logo que tenhas revelado a um descontente a tua
intenção, lhe dás motivo para ficar contente porque, evidentemente,
ele pode daí esperar todas as vantagens; de forma que, vendo o ganho
certo de um lado, sendo o outro dúbio e cheio de perigo, é preciso
seja ou extraordi 112 nário amigo teu ou implacável inimigo do
príncipe para manter-te a palavra empenhada.


Para reduzir o assunto a termos breves, digo que do lado do
conspirador não existe senão medo, ciúme, suspeita de castigo que o
atordoa; mas, do lado do príncipe, existe a majestade do principado,
as leis, as barreiras dos amigos e do Estado que o defendem;
consequentemente, somada a tais fatores a benevolência popular, é
impossível exista alguém tão temerário que venha a conspirar. Isso
porque, geralmente, onde um conspirador teme antes da execução do mal,
se tiver o povo por inimigo, deve temer ainda mesmo depois de ocorrido
o fato, não podendo por isso esperar qualquer amparo.


Deste assunto poder-se-ia citar inúmeros exemplos; porém, limito-me a
apenas um, conservado pela recordação de nossos pais. Tendo sido
messer Aníbal Bentivoglio, príncipe em Bolonha e avô do atual messer
Aníbal, morto pelos caneschi que contra ele haviam conspirado, não
restando de sua família senão messer Giovanni que era ainda criança de
colo, logo após esse homicídio o povo levantou-se e matou todos os
canneschi. Isso resultou da benquerença popular que a casa de
Bentivoglio desfrutava naqueles tempos, benquerença essa tão grande
que, não restando em Bolonha qualquer membro dessa família em
condições de poder governar o Estado após a morte de Anibal e
constando haver em Florença um descendente dos Bentivoglio que se
julgava até então filho de um artífice, os bolonheses foram até essa
cidade e lhe confiaram o governo daquela comunidade, a qual foi por
ele dirigida até que messer Giovanni atingisse a idade conveniente
para governar.


Concluo, portanto, que um príncipe deve dar pouca importância às
conspirações se o povo lhe é benévolo; mas quando este lhe seja
adverso e o tenha em ódio, deve temer tudo e a todos. Os Estados bem
organizados e os príncipes hábeis têm com toda a diligência procurado
não desesperar os grandes e satisfazer o povo conservando-o contente,
mesmo porque este é um dos mais importantes assuntos de que um
príncipe tenha de tratar.


Entre os reinos bem organizados e governados nos nossos tempos está
aquele de França. Nele existem inúmeras boas instituições, das quais
dependem a liberdade e a segu 113 rança do rei; a primeira delas é o
Parlamento com a sua autoridade. Aquele que organizou esse reino,
conhecendo a ambição dos poderosos e a sua insolência, julgando ser
necessário pôr um freio para corrigi-los e, de outra parte, por
conhecer o ódio da maioria contra os grandes com base no medo,
desejando protegê-la mas não querendo fosse este particular cuidado do
rei, buscou dele retirar o peso da odiosidade dos grandes em sendo
favorecido o povo ou deste ao dever apoiar os grandes; por isso,
constituiu um terceiro juiz que fosse aquele que, sem responsabilidade
do rei, contivesse os grandes e amparasse os pequenos. Essa ordem não
podia ser melhor nem mais prudente, nem se pode negar seja a maior
razão da segurança do rei e do reino. Daí pode-se extrair outra
conclusão digna de nota: os príncipes devem atribuir a outrem as
coisas odiosas, reservando para si aquelas de graça. Novamente concluo
que um príncipe deve estimar os grandes, mas não se fazer odiado pelo
povo.


Talvez a muitos pudesse parecer, considerando a vida e a morte de
alguns imperadores romanos, fossem elas exemplos contrários à minha
opinião, dado que viveram exemplarmente e demonstraram grandes
virtudes e, sem embargo disso, perderam o Império ou mesmo foram
mortos pelos seus que contra eles conspiraram. Querendo, portanto,
responder a estas objeções, falarei das qualidades de alguns
imperadores, mostrando as causas de sua ruína, não discrepantes
daquilo que foi por mim aduzido, ao mesmo tempo, porei em consideração
aqueles fatos que são notáveis para quem lê as ações daqueles tempos.
Considero suficiente citar todos os imperadores que se sucederam no
poder, desde Marco o filósofo até Maximino, os quais foram Marco, seu
filho Cômodo, Pertinax, Juliano, Severo, seu filho Antonino Caracala,
Macrino, Heliogábalo, Alexandre e Maximino.


Deve-se notar inicialmente que, enquanto nos outros principados tem-se
de lutar apenas contra a ambição dos grandes e a insolência do povo,
os imperadores romanos encontravam uma terceira dificuldade, aquela de
terem de suportar a crueldade e a ambição dos soldados. Esta terceira
dificuldade era de tal forma séria que se tornou a causa da ruína de
muitos, pois é difícil satisfazer ao mesmo tempo os soldados e o povo:
este amava a paz e, por isso, estimava os príncipes moderados,
enquanto que os soldados amavam o príncipe de ânimo militar, que fosse
insolente, cruel e rapace, querendo que o mesmo exercesse tais
violências contra as populações para poder ter, assim, duplicado soldo
e expansão à sua rapacidade e crueldade.


Tais fatos fizeram com que aqueles imperadores que, por natureza ou
por engenho, não desfrutavam uma grande reputação de forma a poder
manter freados um e outros, sempre se arruinassem; a maioria deles,
principalmente aqueles que como homens novos chegavam ao principado,
conhecida a dificuldade que resultava desses dois sentimentos
diversos, propendiam para satisfazer aos soldados, pouco se
preocupando com o fato de por tal forma ofender o povo. Esse partido
era necessário: porque, não podendo o príncipe deixar de ser odiado
por alguém, deve primeiro buscar não ser odiado por qualquer classe
social; mas, quando não pode conseguir isto, deve empenhar-se em, por
todos os meios, evitar o ódio daquelas classes que são mais poderosas.
Por isso, aqueles imperadores que, por serem novos, tinham necessidade
de favores extraordinários, aderiam antes aos soldados que ao povo, o
que, não obstante, se lhes tornava útil ou não, conforme soubessem ou
não conservar-se reputados entre eles.


Das razões mencionadas, resultou que Marco, Pertinax e Alexandre,
todos eles de vida modesta, amantes da justiça, inimigos da crueldade,
humanos e benignos, tiveram, a partir de Marco, triste fim. Somente
Marco viveu e morreu honradíssimo, visto ter sucedido no império jure
hereditário não tendo de agradecê-lo nem aos soldados nem ao povo;
depois, sendo dotado de muitas virtudes que o faziam venerando, teve
sempre, enquanto viveu, uma ordem e outra dentro de seus limites, não
sendo jamais odiado ou desprezado. Mas Pertinax, tornado imperador
contra a vontade dos soldados que, acostumados a viver licenciosamente
sob Cômodo, não puderam suportar aquela vida honesta a que o imperador
queria reduzi-los; por isso, tendo Pertinax criado ódio contra si e a
este ódio acrescido o desprezo por ser já velho, arruinou-se logo no
início de sua administração.


Deve-se notar aqui que o ódio se adquire tanto pelas boas como pelas
más ações: como já disse acima, querendo um príncipe conservar o
Estado, freqüentemente é forçado a não ser bom, pois quando aquele
elemento mais forte, povo, soldados ou grandes, de que julgas
necessitar para manter-te, é corrompido, convém que sigas o seu desejo
para satisfazê-lo; então, as boas obras tornam-se tuas inimigas. Mas
passemos a Alexandre, o qual foi de tanta bondade que, entre outros
louvores que lhe são endereçados, existe este de que, em quatorze anos
que conservou o poder, não foi executada qualquer pessoa sem
julgamento; contudo, sendo considerado efeminado e homem que se
deixava governar pela mãe, tornou-se desprezado, o exército conspirou
e ele foi morto.


Falando agora, por outro lado, das qualidades de Cômodo, Severo,
Antonino Caracala e Maximino, os achareis extremamente cruéis e
rapaces: para satisfazer os soldados, não pouparam nenhuma espécie de
injúria que pudesse ser cometida contra o povo; todos, exceto Severo,
tiveram triste fim. É que Severo possuiu tanto valor que, conservando
os soldados como seus amigos, ainda que o povo fosse por ele oprimido,
pode sempre reinar com felicidade, pois aquelas suas virtudes o
tornavam tão admirável no conceito dos soldados e do povo, que este
ficava por assim dizer atônito e aturdido e aqueles reverentes e
satisfeitos. E, porque as ações do mesmo foram grandes e notáveis num
príncipe novo, desejo mostrar de forma breve quão bem soube usar a
ação da raposa e do leão, naturezas essas que, disse acima, devem ser
imitadas pelos príncipes.


Tendo Severo conhecido a ignávia do Imperador Juliano, persuadiu seu
exército, do qual era capitão na Stiavônia, de que era conveniente ir
a Roma para vingar a morte de Pertinax, assassinado pelos soldados
pretorianos; sob este pretexto, sem demonstrar aspirar o Império,
conduziu o exército contra Roma, chegando à Itália antes que fosse
conhecida sua partida. Estando em Roma, o Senado, por temor, elegeu-o
imperador, sendo morto Juliano. A seguir, restavam a Severo duas
dificuldades para se assenhorear de todo o Estado: uma na Ásia, onde
Pescênio Nigro, chefe dos exércitos asiáticos, se fizera aclamar
imperador; a outra no Poente, onde estava Albino que, por sua vez,
também aspirava ao Império. Porque julgasse perigoso revelar-se
inimigo de ambos, deliberou atacar Nigro e enganar Albino a quem
escreveu que, tendo sido pelo Senado eleito imperador, desejava com
ele compartilhar aquela dignidade; enviou-lhe o título de César e, por
deliberação do Senado, tornou-o seu colega. Albino aceitou tais coisas
como verdadeiras; mas, depois que venceu e matou Nigro, pacificados os
negócios orientais e retornado a Roma, Severo queixou-se ao Senado de
que Albino, pouco reconhecido dos benefícios dele recebidos, tinha
dolosamente procurado matá-lo, razão pela qual via necessidade de ir
punir sua ingratidão. Depois, foi ao seu encontro na França e lhe
tolheu o governo e a vida.


Quem examinar, portanto, minuciosamente as ações deste homem, achá-lo-
á um ferocíssimo leão e uma astuciosíssima raposa, ve-lo-á temido e
reverenciado por todos e não odiado pelos exércitos, não se admirando
que ele, homem novo, tenha podido deter tanto poder; a sua alta
reputação o defendeu sempre daquele ódio que, pelas suas rapinagens, o
povo contra ele poderia ter concebido. Mas Antonino, seu filho, foi,
também ele, homem que possuía excelentes qualidades que o faziam
maravilhoso no conceito do povo e querido pelos soldados; era um
militar que suportava muito bem quaisquer fadigas, desprezava os
alimentos delicados e abominava toda e qualquer frouxidão, o que o
tornava amado por todos os exércitos. Contudo, sua ferocidade e
crueldade foi tanta e tão inaudita, tendo mesmo, depois de inúmeros
assassínios privados, morto grande parte da população de Roma e toda
aquela de Alexandria, que tornou-se extremamente odioso para todo o
mundo: começou a ser temido também por aqueles que o rodeavam, de
forma que foi morto por um centurião em meio ao seu exército.


A propósito do referido, é de notar-se que tais assassinatos,
decorrentes da deliberação de um espírito obstinado, são impossíveis
de evitar por parte dos príncipes, porque todo aquele que não tema
morrer pode golpeá-los. Todavia, o príncipe pouco deve temer, porque
tais mortes são raras. Deve apenas cuidar de não fazer grave injúria a
algum daqueles de que se serve e que tem ao seu derredor no serviço do
principado, como fez Antonino que havia morto vilmente um irmão
daquele centurião e ainda ameaçava este diariamente, enquanto o
conservava na sua própria guarda; era resolução temerária e capaz de
destruí-lo, como aconteceu.


Passemos a Cômodo, para quem era de grande facilidade manter o Império
por possuí-lo iure hereditario, uma vez que era filho de Marco;
bastava-lhe seguir as pegadas do pai e teria satisfeito os soldados e
o povo. Mas, sendo de espírito cruel e bestial, para poder usar sua
rapacidade contra o povo, passou a cativar os exércitos e torná-los
licenciosos; por outro lado, não mantendo a sua dignidade, descendo
freqüentemente às arenas para combater com os gladiadores, fazendo
outras coisas extremamente vis e pouco dignas da majestade imperial,
tornou-se desprezível no conceito dos soldados. E, sendo odiado por
uns e desprezado por outros, conspiraram contra ele e foi morto.


Resta-nos narrar as qualidades de Maximino. Este foi homem
belicosíssimo e, estando os exércitos enfastiados da moleza de
Alexandre, de quem falei acima, morto este, elegeram-no para o
governo. Maximino não possuiu o poder por muito tempo, pois duas
coisas tornaram-no odiado e desprezado: uma, o ser de condição
extremamente vil, pois já apascentara ovelhas na Trácia" (fato por
todos bastante conhecido e que lhe causava grande depreciação no
conceito geral); a outra, porque, tendo no início de seu principado
retardado em ir a Roma e tomar posse do trono imperial, dera de si
impressão de extremamente cruel, eis que, por intermédio de seus
prefeitos, em Roma e em muitos pontos do Império, praticara numerosas
crueldades. De modo que, agitado todo o mundo pelo desprezo à vileza
de seu sangue e tomado de ódio pelo medo à sua ferocidade, rebelou-se
primeiro a África, depois o Senado com todo o povo de Roma; toda a
Itália contra ele conspirou. A esse movimento juntou-se seu próprio
exército que, fazendo campanha em Aquiléia e encontrando dificuldade
no assédio, aborrecido de sua crueldade, temendo menos por vê-lo com
tantos inimigos, matou-o.


Não quero falar nem de Heliogábalo, nem de Macrino, nem de Juliano, os
quais, por serem inteiramente desprezíveis, se extinguiram logo;
passarei, pois, à conclusão deste assunto. Assim, digo que os
príncipes de nossos tempos têm a menos, nos seus governos, esta
dificuldade de satisfazer extraordinariamente aos soldados, eis que,
não obstante se deva ter para com os mesmos alguma consideração, isso
se resolve logo, pois nenhum destes príncipes tem um exército que seja
inveterado com os governos e administrações das províncias, como eram
os exércitos do Império Romano. Porém, se então era necessário mais,
aos soldados do que ao povo, isso decorria de que os soldados podiam
mais que aquele; agora é necessário a todos os príncipes, exceto ao
Turco e ao Sultão satisfazer mais ao povo que aos militares, porque
aquele pode mais que estes.


Faço exceção do Turco em razão de ter ele sempre, em torno de si, doze
mil infantes e quinze mil soldados de cavalaria, dos quais dependem a
segurança e o poderio do seu reino; e é necessário que, postergada
qualquer outra consideração, esse senhor os conserve amigos. E deveis
notar que este Estado do Sultão é diverso de todos os outros
principados: ele é semelhante ao pontificado cristão, a que não se
pode chamar nem principado hereditário nem principado novo, posto que
não são filhos do príncipe velho que herdam e se tornam senhores, mas
sim aquele eleito para o posto pelos que têm autoridade. E, sendo esta
uma instituição antiga, não se pode chamar de principado novo, dado
que nela não existem algumas das dificuldades que se encontram nos
novos: se bem o príncipe seja novo, as instituições desse Estado são
velhas e ordenadas a recebê-lo como se fosse seu senhor hereditário.


Retornemos, porém, ao nosso assunto. Digo que todo aquele que
considere o acima exposto verá o ódio ou o desprezo ter sido a causa
da ruína dos imperadores citados e saberá, ainda, porque procedendo
uma parte deles de um modo e a outra parte por forma contrária, em
qualquer um desses modos de agir alguns deles tiveram fim feliz,
enquanto os outros terminaram infelizes. A Pertinax e Alexandre, por
serem príncipes novos, foi inútil e prejudicial querer imitar Marco
que se encontrava no principado iure hereditario; igualmente, a
Caracala, Cômodo e Maximino foi pernicioso o imitar Severo, por não
possuírem tanta virtude que fosse bastante para que pudessem seguir
suas pegadas. Portanto, um príncipe novo, num principado novo, não
pode imitar as ações de Marco e tampouco é necessário seguir as de
Severo; deve tomar de Severo aquelas qualidades que forem necessárias
para fundar seu Estado, e de Marco aquelas que forem convenientes e
gloriosas para conservar um governo já estabelecido e firme.

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