sábado, 24 de novembro de 2007

O PRÍNCIPE - CAPÍTULO XXII

CAPÍTULO XXII
DOS SECRETÁRIOS QUE OS PRÍNCIPES TÊM JUNTO DE SI
(DE HIS QUOS A SECRETIS PRINCIPES HABENT)


Não é de pouca importância para um príncipe a escolha dos ministros,
os quais são bons ou não, segundo a prudência daquele. E a primeira
conjetura que se faz da inteligência de um senhor, resulta da
observação dos homens que o cercam; quando são capazes e fiéis, sempre
se pode reputá-lo sábio, porque soube reconhecê-los competentes e
conservá-los. Mas, quando não são assim, sempre se pode fazer mau
juízo do príncipe, porque o primeiro erro por ele cometido reside
nessa escolha, Não houve ninguém que, conhecendo messer Antônio de
Venafro como ministro de Pandolfo Petruci, príncipe de Siena, deixasse
de julgar este senhor como extremamente valoroso pelo fato de ter
aquele por ministro. E, porque são de três espécies as inteligências,
uma que entende as coisas por si, a outra que discerne o que os outros
entendem e a terceira que não entende nem por si nem por intermédio
dos outros, a primeira excelente, a segunda muito boa e a terceira
inútil, estavam todos acordes que se Pandolfo não se classificava no
primeiro grau, estava, necessariamente, no segundo; porque, toda vez
que alguém tem a capacidade de conhecer o bem e o mal que uma pessoa
faça ou diga, mesmo que por si não tenha capacidade para solucionar os
problemas, discerne as más e as boas obras do ministro, exalta estas e
corrige aquelas, e o ministro não pode esperar enganá-lo, pelo que se
conserva bom.


Mas, para que um príncipe possa conhecer o ministro, existe um método
que não falha. Quando vires o ministro pensar mais em si do que em ti,
e que em todas as ações procura o seu interesse próprio, podes
concluir que este jamais será um bom ministro e nele nunca poderás
confiar; aquele que tem o Estado de outrem em suas mãos não deve
pensar nunca em si, mas sim e sempre no príncipe, não lhe recordando
nunca coisa que não seja da sua competência. Por outro lado, o
príncipe, para conservá-lo bom ministro, deve pensar nele, honrando-o,
fazendo-o rico, obrigando-se-lhe, fazendo-o participar das honrarias e
cargos, a fim de que veja que não pode ficar sem sua proteção, e que
as muitas honras não o façam desejar mais honras, as muitas riquezas
não o façam desejar maiores riquezas e os muitos cargos o façam temer
as mudanças. Quando, pois, os ministros, e os príncipes com relação
àqueles, estão assim preparados, podem confiar um no outro; quando não
for assim, o fim será sempre danoso ou para um ou para o outro.

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