domingo, 13 de maio de 2012

Liderança

Vamos publicar nesse blog o conteúdo do livro  O PRÍNCIPE, e comentá-lo com uma visão contemporânea.


O PRÍNCIPE

Costumam, o mais das vezes, aqueles que desejam conquistar as graças
de um Príncipe, trazer-lhe aquelas coisas que consideram mais caras ou
nas quais o vejam encontrar deleite, donde se vê amiúde serem a ele
oferecidos cavalos, armas, tecidos de ouro, pedras preciosas e outros
ornamentos semelhantes, dignos de sua grandeza. Desejando eu,
portanto, oferecer-me a Vossa Magnificência com um testemunho
qualquer de minha submissão, não encontrei entre os meus cabedais
coisa a mim mais cara ou que tanto estime, quanto o conhecimento das
ações dos grandes homens apreendido através de uma longa
experiência das coisas modernas e uma contínua lição das antigas as
quais tendo, com grande diligência, longamente perscrutado e
examinado e, agora, reduzido a um pequeno volume, envio a Vossa
Magnificência.


E se bem julgue esta obra indigna da presença de Vossa Magnificência,
não menos confio que deva ela ser aceita, considerado que de minha
parte não lhe possa ser feito maior oferecimento senão o dar-lhe a
faculdade de poder, em tempo assaz breve, compreender tudo aquilo
que eu, em tantos anos e com tantos incômodos e perigos, vim a
conhecer. Não ornei este trabalho, nem o enchi de períodos sonoros ou
de palavras pomposas e magníficas, ou de qualquer outra figura de
retórica ou ornamento extrínseco, com os quais muitos costumam
desenvolver e enfeitar suas obras; e isto porque não quero que outra
coisa o valorize, a não ser a variedade da matéria e a gravidade do
assunto a tornarem-no agradável. Nem desejo se considere presunção
se um homem de baixa e ínfima condição ousa discorrer e estabelecer
regras a respeito do governo dos príncipes: assim como aqueles que
desenham a paisagem se colocam nas baixadas para considerar a
natureza dos montes e das altitudes e, para observar aquelas, se situam
em posição elevada sobre os montes, também, para bem conhecer o
caráter do povo, é preciso ser príncipe e, para bem entender o do
príncipe, é preciso ser do povo. Receba, pois, Vossa Magnificência este
pequeno presente com aquele intuito com que o mando; nele, se
diligentemente considerado e lido, encontrará o meu extremo desejo de
que lhe advenha aquela grandeza que a fortuna e as outras suas
qualidades lhe prometem. E se Vossa Magnificência, das culminâncias
em que se encontra, alguma vez volver os olhos para baixo, notará quão
imerecidamente suporto um grande e contínuo infortúnio.

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